100 anos da Revolução Russa: algumas breves notas sobre o legado de Lenin


Nesta passagem dos 100 anos da Revolução Russa, me desafiei a tentar revisitar Lenin e buscar identificar aspectos que possam ser resgatados nesta atual quadra da história.
O legado de Lenin neste século XXI ainda está por ser construído e desvendado. Muito de seu velho apelo, de forma incontornável, se perdeu ou se transformou. Para o bem ou para o mal, os sentidos da obra de Lenin e da própria Revolução Russa, neste século XXI, serão muito diversos daqueles que se sucederam ao longo do século XX.
A leitura de Lenin é árida, sem atalhos fáceis e encoberto por uma penumbra mitificadora de aparência quase impenetrável. De um lado o esquematismo do "marxismo-leninismo" soviético e por outro, as simplificações detratoras da acadêmia ocidental ou russa pós-soviética, sejam em suas leituras liberais ou conservadoras, tornam difícil ler Lenin sem mediações e distorções de naturezas variadas.
Ainda que com um caráter provisório, estas minhas modestas releituras de Lenin confirmaram algumas intuições. O pensamento de Lenin e sua faceta como elaborador teórico conservam aspectos fascinantes. A interpretação de Lenin sobre o imperialismo, por exemplo, em suas coordenadas básicas, seguem vigentes.
O comunista italiano Antonio Gramsci afirmava que Lenin, depois de Marx e Engles, foi o maior filósofo da Práxis. Os seus apontamentos filosóficos, efetivamente, aprofundaram dimensões que apenas se insinuavam no marxismo clássico.

A elaboração por Lenin da dialética materialista como método de análise da sociedade capitalista rompeu com os paradigmas dominantes no marxismo europeu da IIº Internacional. Uma inovação teórica que, em termos da história das ideias marxistas, não pode ser menosprezada em seu alcance.

Por outro lado, ainda neste campo, Lenin conservou ou revigorou aspectos do hegelianismo que o Marx maduro já havia superado. Estas reminiscências permitiram que certo determinismo histórico, de matriz hegeliana, seguissem vivos no pensamento do líder bolchevique. Certamente pesou aqui o fato de Lenin não ter tido acesso alguns dos principais textos de Marx onde esta superação do hegelianismo se demonstrava. Muitos destes textos de Marx, como os Grundrisse, permaneceram inéditos para o grande público por muito tempo e foram publicados apenas décadas após o falecimento do revolucionário russo.
Teríamos ainda inúmeros outros aspectos a serem apontados, em particular suas leituras sobre a ação política que, em tempos pós-democráticos, podem conter elementos de renovada atualidade para a resistência popular.
Pretendo, assim que me sobrar um tempinho, sistematizar estas leituras, pois acredito ser necessário um contínuo e coletivo debate sobre o pensamento de Lenin. Sem mitificações ou distorções, Lenin pode ainda fornecer questões chaves para a esquerda no século XXI e que nesta passagem do centenário da vitória bolchevique nos convidam e desafiam a esta empreitada.


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