Obama e Rolling Stones na nova Cuba de Raul Castro
Dois fatos distintos abriram e encerraram uma semana histórica e carregada de simbolismos para Cuba: o presidente norte-americano Barack Obama realizou uma inédita visita diplomática oficial a Havana e a banda de rock Rolling Stones, pela primeira vez se apresenta na ilha e fez um show gratuito na capital cubana para uma multidão de mais de meio milhão de pessoas.
Para além do simbolismo das duas situações, a visita do presidente dos EUA é o fato com maior impacto no médio prazo para o povo cubano, Sinaliza o avanço efetivo da superação do longo embargo econômico imposto contra a ilha.Algumas medidas já foram tomadas, mas ainda pequenas face o grande abismo entre as duas nações e os duros impactos do cerco econômico para Cuba.
O embargo é o maior resquício da Guerra Fria que teima em não cessar. Jamais produziu os efeitos esperados pelos EUA, o regime cubano goza hoje de uma ampla força interna, potencializado pelo próprio embargo, que obriga a adoção de medidas excepcionais de forma permanente, ampliando a centralização excessiva da economia cubana para resistir ao embargo, assim como o nacionalismo frente ao opressor imperialista do norte. Raul Castro, desde que assumiu o governo após a saída de Fidel Castro, tem buscado medidas para melhor dinamizar internamente suas relações econômicas, desburocratizando o acesso a determinadas atividades, assim como retirando ou restringindo o próprio papel do Estado na execução das mesmas.
Tem chamado a atenção nesta transição que Raul Castro tem comandado, ao contrário de outras experiências do final do século XX, um grau de serenidade e cautela maior, buscando nesta "liberalização econômica", manter a identidade socialista do seu regime político.
Mudanças, para atingir um sólido resultado, devem vir acompanhada de uma série de elementos que lhes de sustentação. Medidas restritas a dinamização da economia poderão empurrar Cuba para uma situação que coloque em xeque a continuidade do socialismo cubano, com seus avanços e conquistas sociais ameaçados. Guardadas as devidas proporções, o modelo chinês pode ser um bom modelo a ser observado pelos cubanos, principalmente para não seguir os seus passos. Não podemos ter mais um "monstrengo" a unir o pior do socialismo real com o pior do capitalismo liberalizado.
Cuba, inúmeras vezes teve uma ousadia revolucionária notável em criar os seus próprios passos e caminhos. O modelo cubano serviu de inspiração para milhares de lutadores ao longo dos anos. A possibilidade de mais uma vez produzir uma nova síntese capaz de se reinventar é uma possibilidade colocada.
A dimensão política deve passar por uma nova fase, capaz de constituir novos instrumentos políticos que aprofundem uma democracia de tipo socialista, com radicalidade democrática. Os instrumentos para isso ainda estão por ser forjados, um dos aspectos a serem buscados é a renovação de novos símbolos políticos capaz de renovar o seus processos políticos.
Uma nova Cuba está sendo erguida. Se já é notável o fato de Obama ser o primeiro presidente norte-americano em exercício a visitar Cuba em quase 90 anos, as guitarras de Keith Richards e vocais de Mick Jagger podem ser os acordes de embalem com a alegria e rebeldia do Rock, os caminhos desta Cuba renovada. Novos caminhos, cobertos por ineditismos que as novas circunstâncias exigem, deverão trazer novos símbolos políticos ainda mais significativos, disto não tenho a menor dúvida.
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