O que choca mais: a cusparada de Jean Wyllys ou apologia à tortura de Jair Bolsonaro?
No circo de horrores comandado por Eduardo Cunha (PMDB) na Câmara de deputados para deflagrar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, não faltaram cenas e situações absurdas de toda a natureza. Entre as inúmeras manifestações desprovidas de qualquer nexo com a acusação contra Dilma, uma das falas que se sobressaíram foi a do polêmico deputado Jair Bolsonaro (PSC). Corrigindo, polêmico chega a ser uma generosidade de tratamento para um parlamentar que não merece nenhuma gentileza. Após seu discurso carregado de ódio, Bolsonaro levou uma cusparada de Jean Wyllys (PSOL), em repúdio as provocações.
Em seu discurso, Bolsonaro abertamente defendeu a Ditadura de 1964, fazendo chacotas que "a esquerda foi derrotada em 64 e está sendo derrotada novamente em 2016", o parlamentar ainda homenageou ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Destacamento de Operações de Informação-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), responsável por inúmeras torturas e assassinatos, incluindo a tortura da própria presidenta Dilma. Uma clara e inequívoca apologia a ditadura e ao fim da democracia.
Na sequência, instantes depois de votar contra a abertura do processo de impeachment, o deputado Jean Wyllys (PSOL) cuspiu em direção ao deputado Bolsonaro. Em um post no Facebook, Jean afirmou ter sido ofendido por Bolsonaro.
— O deputado fascista viúva da ditadura me insultou, gritando "veado", "queima-rosca", "boiola" e outras ofensas homofóbicas — escreveu.
No dia seguinte, quase todos os jornais e sites informativos noticiavam o ocorrido. O mais surpreendente em toda a cobertura é que poucas foram as vozes que manifestaram contrariedade ao discurso abertamente fascista de Bolsonaro e quase todos deram destaque apenas a cusparada de Jean. Como se o único fato relevante fosse a ação de revolta do Jean Wyllys , não o discurso de ódio e de apologia a práticas criminosas de Bolsonaro. (Lembrando, aos desavisados, que tortura ainda é crime no Brasil).
A linha geral foi de uma contida censura a fala de Bolsonaro ("afinal, ele é polêmico mesmo, não vamos exagerar") e de censuras a reação de Jean. Como cheguei a escutar de um jornalista, funcionário de uma destas empresas detentoras do monopólio empresarial da mídia no país: "Realmente o Bolsonaro é uma figura polêmica, sabemos que é reacionário e homofóbico, isso já é conhecido. No entanto, cuspir no rosto de outro deputado é falta de decoro parlamentar.". Por esta lógica, fazer apologia a crimes de tortura e pregar o fim do sistema democrático não constitui infração alguma. Provocar e ofender um deputado, fora dos microfones, não representa tampouco problema algum. Reagir a tudo isto com um cuspe, aí sim, estamos falando de um grave delito.
A inversão de valores é tamanha, que mostra um pouco do teatro do absurdo que a nossa sociedade está vivenciando. Para alguns, choca mais a cusparada de Jean Wyllys do que a apologia à tortura de Bolsonaro. O paradoxo maior de toda esta situação é que não será surpreendente se absolutamente nada acontecer com Bolsonaro e contra Jean Wyllys tentarem ainda impor alguma sanção por "quebra de decoro". Na casa de Eduardo Cunha, toda a arbitrariedade é possível e aceita.
Confesso que provavelmente se estivesse no lugar do Jean, não teria dado apenas um cuspe, talvez tivesse vomitado, tamanha repulsa que me provocou o discurso do Bolsonaro. Lembrei-me de uma das mais belas canções de Vitor Ramil, Joquim: "Ao porco tirano e sua lei hedionda nosso cuspe e nosso desprezo!"
Obrigado deputado Jean Wyllys! Todos nós que amamos a democracia e repudiamos o fascismo nos sentimos representados pela sua coragem.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O Brasil é signatários da Convenção da ONU contra a tortura, e sua prática configura crime hediondo em nossa legislação. Da mesma forna como o preconceito é crime. A mesma convenção da ONU exige que os agentes públicos sejam orientados no combate denuncia de sua prática. Bolsonaro não é polêmico. Ele é um reacionário, criminoso condenado em primeira instância e representa toda a aberração que cerca o golpe. Todas as declarações de voto demonstraram a incompetência dos deputados favoráveis que não tiveram sequer o pudor de evocar o fundamento juridico da peça em análise. A cusparada de Jean Willys é o desabafo de todos que assistem esse espetáculo de horrores onde, por trás do clamor pelo nome Deus!!! figura a violência tortura. De que lado está a bancada e o eleitorado cristãos: de Cristo ou dos torturadores romamo a serviço do sinédrio? Quanta hipocrisia.
ResponderExcluir