Os Homens que Não Amavam as Mulheres




O Brasil vive tempos onde as ameaças de retrocessos já deixam de ser apenas ameaças e tornam-se uma amarga realidade. O governo golpista do vice-presidente Michel Temer começou demonstrando logo para que venho. Sem buscar disfarçar, formou em seu ministério uma coalizão conservadora onde todo e qualquer requisito técnico ou de afinidade com as áreas nomeadas foram colocadas em segundo plano. O que prevaleceu foi premiar aqueles que deram sua contribuição para a promoção do golpe branco contra a presidenta Dilma Rousseff.

Saltou aos olhos de todos uma ausência que há muitas décadas não se via em um ministério: nenhuma mulher foi nomeada ministra. Na história recente do país, é o primeiro governos sem mulheres no primeiro escalão desde o governo do ditador Ernesto Geisel.


Que não haveria negros era já esperado pelo forte componente racista que embala a direita brasileira, mesmo que eles sempre neguem,  afinal, como diria o diretor de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, não existe racismo no Brasil.

Outras "minorias", que na verdade são maiorias negadas e invisibilizadas pela hipocrisia reinante em nossa sociedade, são ainda menos lembradas.

A ausência de mulheres é sintomático e revelador do pensamento que embala a elite conservadora brasileira. Mulheres não são pessoas que devam exercer qualquer tipo de protagonismo político, no máximo uma função auxiliar ou decorativa, preferencialmente que sejam belas, recatadas e do lar.

Temer quebra a tradição iniciada pelo general ditador João Figueiredo (1979-1985), que, na ditadura militar, indicou a primeira ministra do Brasil. Após Figueiredo, todos os presidentes nomearam mulheres. José Sarney (1985-1990) indicou uma. Fernando Collor (1990-1992), Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), duas cada um.

Nos governos petistas, a participação feminina foi mais abundante. Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) teve 11 ministras (duas delas interinas) e Dilma Rousseff, 15 (sendo três interinas). Nos dois casos, mulheres desempenharam funções centrais. Além de Dilma, que foi ministra da Casa Civil de Lula, Erenice Guerra, Gleisi Hoffmann e Miriam Belchior compuseram o chamado "núcleo duro" do governo.

Mesmo que venha a indicar uma ou outra mulher para algum cargo importante, como a presidência do BNDES ou alguma secretaria, o recado politico já foi dado e não passará de paliativo,

Para além da questão do simbolismo político e toda a sua carga regressiva inquestionável, a ausência de mulheres é uma prova incontornável que políticas públicas para as mulheres brasileiras não terão lugar no governo usurpador.

Esta situação é ainda mais dramática se recordarmos que o Brasil ostenta a indigna marca de ser o sétimo país que mais mata mulheres no mundo. A cada hora e meia, uma mulher é assassinada por um homem no Brasil, apenas por ser mulher. Este tipo de crime, que se denomina como feminicídio, é apenas um exemplo da urgência das políticas públicas direcionadas para as mulheres no país, para não falarmos aqui de outras situações graves, como a violência física, a desigualdade de gênero nos locais de trabalho, o problema do aborto, etc.

A referência ao já clássico romance do sueco Stieg Larsson não é casual. O Brasil passou a ser governado por homens, brancos, ricos e que não amam as mulheres e nem a diversidade.

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