Em tempos onde as boas notícias são cada vez mais escassas, o anúncio do acordo de cessar-fogo bilateral e definitivo entre o governo da Colômbia e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), deve ser celebrada, pois surge quase como um raio de sol em meio as nuvens cinzas nos céus de uma conjuntura internacional nada animadora.
Uma paz que muitas vezes pareceu improvável, consegue agora dar um decisivo passo para sua realização plena, após este anúncio histórico. Após mais de 50 anos de guerra, o conflito armado mais longo das Américas chega ao seu fim após deixar seis milhões de pessoas refugiadas, mais de 200.000 mortos e 45.000 desaparecidos, em números aproximados.
Ban Ki-moon, Santos, Raúl Castro e Timochenko,na cerimônia em Havana. |
O anúncio do acordo foi realizado em uma cerimônia em Havana, com o governo colombiano representado pelo presidente Juan Manuel Santos, pelo líder guerrilheiro das FARC Timoleón Jiménez, Raúl Castro, presidente de Cuba, e Borge Brende, chanceler da Noruega, os principais mediadores dos diálogos de paz, além de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, entidade que monitorará a aplicação do acordo. Chile e Venezuela, países que acompanharam o processo, foram representados por seus respectivos presidentes, Michelle Bachelet e Nicolás Maduro. Representantes de outros países, como Estados Unidos, México e El Salvador, da União Europeia e de organismos como a CELAC também estiveram presentes na cerimônia, compondo o cenário de envolvimento internacional para a construção deste delicado processo.
O apoio unânime dado pela comunidade internacional contrasta com a oposição ao processo de paz externada na própria Colômbia. O principal partido de oposição, o Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe. As intenções de Uribe são tentar mobilizar, através da perpetuação do conflito armado, seu regresso ao poder através de uma agenda política belicista, em oposição a via do dialogo conduzida pelo presidente Manuel Santos.
Por outro lado, ainda há um longo caminho a percorrer e que o país atinja uma paz definitiva, devendo ainda buscar superar outras batalhas internas, como a para conseguir um pacto com o Exército de Libertação Nacional (ELN) e o combate às quadrilhas criminosas ou neoparamilitares, mas, para isso, tornava-se imprescindível acabar com um dos conflitos mais antigos de que o país se lembra.
As FARC já declararam seu apoio à um plebiscito a ser realizado após a conclusão do acordo de paz. Com isso, a guerrilha mais antiga da América latina projeta sua transição para assumir a via institucional do Estado colombiano como sua arena política. Para o cenário político colombiano poderá ser um salto qualitativo significativo passar a contar com um novo ator disputando e auxilando para uma maior consolidação da democracia.
Se como já mencionamos, os desafios futuros para uma sociedade pacificada ainda possuem muitos elementos a serem enfrentados, a transição iniciada pelas FARC para converter-se em um grupo político que irá desenvolver suas lutas de forma não-armada, apostando na via democrática, poderá ser um importante fator para que a Colômbia possa ter uma democracia onde a arbitrariedade e o autoritarismo das instituições, que sempre lhe caracterizou, seja apenas uma triste lembrança a ser superada.
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