Todos contra Nicolás Maduro
O agravamento das crises políticas e econômica na Venezuela tem ganhado os olhares apreensivos ao redor do mundo. A expectativa de qual será o caminho possível para o conturbado cenário atual tem muitas vezes apontado para análises apressadas e muitas vezes enviesadas, onde se observa uma verdadeira campanha internacional tendo por alvo único ao presidente Nicolás Maduro.
Explicita ou implicitamente, busca-se consolidar uma ideia de que a solução para todos os impasses passaria pela queda de Maduro da presidência venezuelana. Este tipo de expediente já foi largamente utilizado ao longo de todo o período que Hugo Chávez esteve à frente da Revolução Bolivariana. Agora soma-se um peculiar exercício retórico que aponta que Maduro não teria as mesmas qualidades de liderança que seu antecessor. Curiosamente, são praticamente as mesmas vozes que, assim como antes pediam a saída de Chávez, agora pedem a saída do presidente Maduro.
Nicolás Maduro não é Hugo Chávez, seguramente pode-se apontar aspectos pontuais onde erros do atual mandatário podem ser constatados. A liderança que Chávez constituiu em sua trajetória não é um fator menor para o processo político venezuelano. Assim como não pode-se desconsiderar os graves problemas acumulados na Venezuela que Maduro herdou e que até o momento não encontrou soluções satisfatórias. Inegavelmente, a esquerda na Venezuela tem passado por um período de reorganização, onde o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), legenda símbolo do chavismo, enfrenta um processo de crise interna.
No entanto, o golpe no Brasil alertou a esquerda venezuelana para o risco real de uma radicalização da direita para buscar uma via similar, contando desta vez com o respaldo diplomático do governo usurpador brasileiro. Este risco deverá impedir uma possível fragmentação da esquerda e retirada de apoio a liderança de Maduro. A necessidade de uma nova configuração política para o PSUV no próximo período, no entanto, deverá impor mudanças no médio prazo.
Estas mudanças deverão atentar para dois aspectos fundamentais: o político e a economia. No plano político, a vitória da direita nas eleições legislativas impuseram uma nova realidade que exigirá respostas. Recuperar a maioria social que sempre respaldou o processo político da Revolução Bolivariana deverá ser o objetivo principal. Parte deste desafio passará por saber explorar as profundas divisões da maioria oposicionista. O único objetivo da oposição venezuelana neste momento, a prioridade das suas três diferentes vertentes, é fabricar um clima de desestabilização e alterar o ambiente até ao extremo, devido ao temor das urnas e de perder novamente num eventual referendo revogatório ou em eleições presidenciais. Há um setor que trabalha pelo referendo, liderado pelo governador do estado de Miranda, o ex-candidato presidencial Henrique Capriles. Outro setor controla a atividade das ruas, e é dirigido por Leopoldo López, o líder do partido Vontade Popular, que determina suas diretrizes da prisão onde se encontra. O terceiro setor é conformado pelos grupos Ação Democrática e Um Novo Tempo, que controlam a Assembleia Nacional, manejam recursos e contam com uma ampla projeção midiática.
Sem um projeto de país, não será difícil explorar suas contradições, mas para isso, deverá apontar para um projeto de futuro que supere, pelo menos em parte, os impasses na economia nacional. Em boa medida, a crise política tem se beneficiado da crise econômica. O agravamento da crise econômica mundial colocou a Venezuela em uma situação de grande fragilidade e recessão. A queda dos preços do petróleo, que despencaram de 100 para 30 dólares, impactou profundamente suas receitas. A situação de verdadeira “Guerra Econômica” que tomou conta do país, acabou atingido a todo o conjunto da população. Além da inflação ter disparado nos últimos anos e da retração no PIB, o país petroleiro importa 70% dos produtos que consome, e com a falta de dólares para importações, a escassez de produtos básicos é considerável. Problema agravado pela ação do contrabando de itens pelos chamados “bachaqueros” e pela disseminação de práticas de locautes por grandes empresários opositores ao governo.
Medidas como as nacionalizações e um papel ainda mais ativo do Estado funcionam como bons paliativos frente ao agravamento imediato, mas deverá se gestar soluções de médio e longo prazo que melhor dinamizem a economia venezuelana, reduzindo sua vulnerabilidade externa. Nem todos os meios estão a disposição do governo, muitos fatores dependem de conjunções variadas, como a economia internacional e o setor privado local, buscar ultrapassar os atuais impasses exigirá novas apostas políticas ou novos instrumentos para tal.
Os ataques ao presidente Nicolás Maduro deverão prosseguir, a farsa reducionista que buscará culpabilizar em um único indivíduo as responsabilidades pelos descaminhos conjunturais poderá inclusive se intensificar. Neste momento, nos parece que o caminho deveria ser justamente o inverso: manter Maduro na presidência é referendar a decisão democrática da população e apostar numa saída soberana para a crise. Maniqueísmos nunca foram bons conselheiros!
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