A farsa da denúncia do MPF contra Lula



Finalmente, após longos meses de espera, como já previsto, surge a denúncia da Lava Jato contra o ex-presidente Lula. Era uma denúncia tão óbvia que surgiria, que os fatos que a motivariam era uma questão menor. Os fatos sempre foram, na verdade e seguem sendo, de relevância menor. O fundamental é a denúncia por si, enquanto ato performático e seus efeitos imediatos. A denúncia é uma peça de mera formalidade para a condenação posterior, esta que também já está decretada. Não importa o que a defesa do ex-presidente faça, a condenação já está selada. Paira, talvez, ainda dúvidas quanta a punição e o melhor tempo político para deflagar o capítulo final da caçada contra Lula.

O evangelista e Procurador Deltan Dallagnol fez uma longa exposição onde buscou apresentar em sua coletiva para a mídia brasileira, os motivos que embasariam a denúncia. Foram muitos adjetivos, frases de efeitos, ilações e uma mal disfarçada ojeriza partidarizada contra Lula e o PT. O fato mais contundente de toda a apresentação foram seus slides em Power Point, tendo seu ápice com o gráfico onde o nome de Lula aprece ao centro.
Os argumentos usados por Dallagnol, para além do slide citado - com argumentos beirando ao ridículo, como "expressividade" sendo apontada como um dos elementos da culpabilidade de Lula  - são extremamente frágeis, muito distante da isenção investigativa que se esperaria de servidores públicos. Justiça e parcialidade jamais deveriam andar juntas, pois subverte a própria noção de justiça. Mais do que isso, a fala de hoje, somada a outras manifestações públicas do evangelista Dallagnol deixam claro que seu objetivo é criar um estado policial regado com messianismo e "filosofia" de auto-ajuda canastrona.

Longos meses de investigação, milhões de reais em dinheiro público para bancar a perseguição contra Lula resultam em uma frágil denúncia que se resume ao famoso triplex no Guarujá. Não foi encontrado contas na Suíça ou em algum outro paraíso fiscal no nome de Lula ou qualquer outra coisa do gênero que povoam nas denúncias contra outras figuras da política brasileira, que seguem impunes, sem preocupar-se com os inconvenientes da Lava Jato. Nem mesmo o próprio  triplex usado contra Lula está em seu nome ou de algum familiar. Mas como disse antes, fatos e provas são irrelevantes.

Para o espanto de quem acompanhou pacientemente a apresentação do MPF, em Curitiba, da denúncia contra Lula, em dado momento, um dos procuradores afirmou "não esperem provas" e completaram "mas tenho convicção" . O que dizer disso? Quando um procurador, no momento de expor sua denúncia, afirma que não existem provas e que elas possivelmente seguirão sem existir, já deixa claro as afirmações que expus no início deste texto. A seletividade da denúncia e da futura condenação, caso se confirme, servirá para propósitos políticos muito claros.

A Lava Jato converteu-se em um instrumento político, neste momento, para a consolidação do golpe que levou Temer a presidência da república. Se quem está lendo este texto ainda duvida, a foto do ministro chefe da Casa Civil, com ares de deboche ao lado de Temer, foto que ilustrou a capa do jornal O Globo (14/09/2016) é bastante ilustrativa e resume cristalinamente em uma imagem o que talvez estas linhas não tenham tido a competência de fazer.


A seletividade não só permanecerá como a regra, como se tornará ainda mais despudorada, se não algo ainda pior. Como apontou o deputado Jean Wyllys a respeito desta foto, "a continência pode ser lida como uma alusão elogiosa ao golpe de 64, à ditadura que este instituiu e aos crimes praticados pelos governos militares (sobretudo os de tortura e assassinato), mas também como uma demonstração de que o golpe de 2016 é uma continuidade ou retomada daquele, mesmo que em outra época e por outros meios. O projeto das elites, o desprezo pelo povo e o desrespeito pela democracia formam a ponte entre estas duas tragédias históricas. O riso debochado de Temer e seu ministro mostra não só o desapreço pelas regras do jogo democrático, mas sobretudo a certeza da impunidade de que sempre gozaram os criminosos de colarinho branco nesse país." É justamente esta impunidade que Dallagnol, Moro e demais personagens da Lava Jato irão ajudar a perpetuar.

2 comentários:

  1. Eles não sossegarão enquanto não impuserem uma condenação indevida a Lula

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  2. Um verdadeiro absurdo que essa autointitulada República de Curitiba quer fazer com país! Rasgam a constituição em nome de interesses políticos excusos.. . .

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