A maldade e o ódio das "pessoas de bem"



É difícil não se espantar com as frequentes demonstrações de ódio que as autodenominadas "pessoas de bem" tem manifestado recorrentemente em nosso país. Não deixa de ser um bizarro paradoxo que todo o “cidadão de bem” não exite ou vacile em praticar toda a forma de maldade em atos marcados pela desumanidade e a intolerância, que não raras vezes, descambam para a violência pura e gratuita.

A mais recente e patética destas manifestações ocorreu por ocasião do nascimento do neto da presidenta Dilma em Porto Alegre. Um pequeno grupo resolveu demonstrar todo o seu “senso cívico” e foram protestar em frente a maternidade em que o bebê nasceu. Tenho que confessar ser quase impossível não se entristecer um pouco ao ver que o simples nascimento de uma criança pode se transformar em mais uma oportunidade de demonstração pública de ódio.


Essas pessoas dedicaram um razoável tempo de suas vidas produzindo cartazes, se “fantasiando” de verde e amarelo e se deslocando até a frente do hospital para vociferar toda sua indignação (seletiva e incoerente, como toda a 'pessoa de bem' que se preze). Alguns podem argumentar comigo que se tratam de um número insignificante de pessoas, que não representa força social alguma. Até pode ser verdade, mas talvez devamos olhar por um outro ângulo: foram apenas aqueles que tiveram a coragem de ir a rua extravasar sua raiva, que um número muito maior optou pela segurança e impessoalidade das redes para publicizar um conteúdo de intolerância similar. Qualquer rápida pesquisa nas redes sociais demonstrará isso.

É perturbador pensar o quanto em “nome do bem”, em “nome de Deus” ou da “pátria”, seja praticado tanto mal. Sim, mal e bem, ainda que sejam conceitos subjetivos e cambiantes através do tempo e do espaço, devem ser evocados neste momento. Não tem como não enxergar a maldade na intenção de agredir (ainda que apenas verbalmente) uma avó que vai ver o seu neto recém-nascido na maternidade.

O argumento deles (sim, as vezes eles tentam argumentar) era de que o neto da presidenta não poderia nascer em um hospital privado, deveria ter nascido no SUS. Mesmo tipo de campanha abjeta que foi realizada alguns anos atrás contra Lula e seu tratamento contra o câncer. Tipo de argumento tão raso e hipócrita que não vale a pena me alongar, mas apenas pontuar duas coisas. Primeira, essa indignação é exclusiva para petistas ou políticos de outros partidos também são hostilizados em hospitais privados? Em segundo lugar, se de fato a filha da presidenta optasse por ter o seu parto em algum hospital da rede pública - cuja qualidade dos serviços muitos destas “pessoas de bem” desconhecem - não poderiam alegar que ela estaria tirando a vaga de uma outra mãe sem condições de pagar o serviço privado? Me parece que é uma questão, pela perspectiva deles, sem solução.

A intolerância tem ganhado força em nosso país em uma velocidade e forma assustadora. Não é o “fim dos tempos”, ainda não se converteu em uma força socialmente relevante ao ponto de impor a sua visão de mundo a todo o conjunto da sociedade, como em geral ocorre em regimes ditatoriais e fascistas, mas nem por isso devemos menosprezar o que está ocorrendo. Uma postura vigilante e de combate a estas manifestações de ódio, que de forma recorrente tem acontecido pelo Brasil a fora, é evidente. Talvez o ridículo da situação, das pessoas verem o quanto a irracionalidade e o ódio chegam as raias da loucura, como no protesto deste trio em Porto Alegre, podem servir para desarmar espíritos e enfraquecer a intolerância. Sejamos otimistas!

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