Irã: derrota eleitoral dos ultraconservadores


O cenário político no Irã parece passar por ventos renovadores. A lista "Esperança", que uniu reformistas e moderados que apoiam o presidente do Irã, ganhou todos os 30 assentos parlamentares de Teerã, a capital do pais, nas eleições deste final de fevereiro. Poucos acreditavam que uma vitória tão avassaladora pudesse se confirmar, o resultado fortalece a posição política do presidente Hassan Rohani.

A lista de reformistas e moderados em Teerã foi liderada por Mohammad Reza Aref, antigo candidato reformista às eleições presidenciais de 2013, que se retirou a favor do moderado Hassan Rohani, hoje presidente do Irã, que foi eleito em primeiro turno. Hassan Rohani espera com esta eleição obter uma maioria no Parlamento nacional, atualmente dominado pelos conservadores, para poder prosseguir a sua política de abertura.

Estas foram as primeiras eleições desde o acordo nuclear do governo de Rohani com as potências mundiais. As eleições são um teste à influência do presidente, que luta para reconstruir a economia do Irã após o levantamento das sanções internacionais na sequência do acordo. Além de elegeram o Parlamento, onde no âmbito geral Rohani deverá ter maior força a partir de agora, também foram eleitos os integrantes para a Assembleia de Especialistas, órgão composto por religiosos que escolhem e podem demitir o guia supremo.

Para a Assembléia de Peritos, o Aiatolá Mohammad Taghi Mesbah Yazdi, um clérigo defensor intransigente da autoridade do líder supremo sobre toda a vida política e crítico de qualquer "sedição" reformista, foi excluído. O atual chefe da Assembleia, o aiatolá Mohammad Yazdi, próximo do líder supremo, também foi rejeitado. Reformistas realizaram uma forte campanha em Teerã para eliminar essas figuras emblemáticas do conservadorismo iraniano. A forte mobilização dos eleitores de classe média, com perfil liberal, permitiu atingir esse objetivo, em parte. O terceiro alvo, o aiatolá Ahmad Jannati, chefe do Conselho de Guardiães, que liderou a seleção de candidatos para estas eleições, invalidando muitas figuras consideradas pelo "sistema" como excessivamente críticos,  entretanto, conseguiu ser eleito na posição final da lista.

A nova configuração política interna do Irã pode representar um avanço no processo de reformas que Rohani tem liderado em seu país. O impasse nuclear durante 13 anos levou a moeda iraniana, o Rial, a desvalorizar-se em dois terços, destruindo o poder de compra. A taxa de desemprego oficial é de 10%, mas sobe para os 25% entre os jovens. Ainda assim, com todas as fragilidades e desafios colocados, o Irã segue como como uma potência regional a influir nos demais países da região. Em um momento em que potências rivais como Israel e Arábia Saudita, no plano interno, fortalecem seus setores mais conservadores nos espaços de poder político, o Irã parece apontar para um outro caminho. O sucesso desta empreitada de Rohani pode representar um ponto de virada decisivo para o seu país e para a região.
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