Federico García Lorca



"Como não me preocupei de nascer, não me preocuparei de morrer."

É quase impossível pensar na poesia do século XX, sem mencionar o nome do espanhol Federico García Lorca. Sua influência junto a autores de língua espanhola, como Pablo Neruda, assim como a relevância de sua obra, o colocam como um dos autores fundamentais do século passado.


García Lorca  nasceu em 1898, na cidade de  Fuente Vaqueros, na Espanha. membro da chamada Geração de 27, autor de livros como o Romancero gitano (1928), Llanto por Ignacio Sánchez Mejía (1935) e Poeta em Nueva York (1940). Após a vitória de Franco na Guerra Civil espanhola, o poeta é fuzilado, em 1936, tornando-se um dos símbolos da

O assassinato de García Lorca em 19 de agosto de 1936  se insere como parte de uma campanha de assassinatos em massa promovida pelo General Franco, logo após assumir o poder, que visava eliminar a todos os apoiadores e simpatizantes da causa republicana. Segundo algumas versões, ele teria sido fuzilado de costas, em alusão a sua homossexualidade.

Foi um homem à frente de seu tempo, um espírito vanguardista, além de poeta, foi dramaturgo, pintor, compositor e pianista. Sucumbiu em uma Espanha que estava regredindo.

Abaixo um de seus poemas que retratam um pouco deste espirito inquieto em tempos nebulosos.


Paisagem com duas tumbas e um cão assírio 

Amigo,
levanta-te para que ouças uivar
o cão assírio
As três ninfas do câncer estiveram dançando,
meu filho.
Trouxeram umas montanhas de lacre vermelho
e uns lençóis duros onde o câncer estava dormindo.
O cavalo tinha um olho no pescoço
e a lua estava num céu tão frio
que teve de rasgar seu monte de Vênus
e afogar em sangue e cinza os cemitérios antigos. 

Amigo,
desperta, que os montes ainda não respiram
e as ervas de meu coração encontram-se em outro lugar.
Não importa que estejas cheio de água do mar.
Eu amei por muito tempo um garoto
que tinha uma plúmula na língua
e vivemos cem anos dentro de uma navalha.
Desperta. Cala. Escuta. Ergue-te um pouco.
O uivo
é uma longa língua roxa que deixa
formigas de espanto e licor de lírios.
Já vêm até a rocha. Não alargues tuas raízes!
Aproxima-se. Geme. Não soluces em sonho, amigo. 

Amigo!
Levanta-te para que ouças uivar
o cão assírio. 

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