Como música, o impeachment atrai aos ratos do golpismo



Na antiga fábula do Flautista de Hamelin, no longínquo ano de 1284, a pequena cidade de Hamelin, na Alemanha, estava infestada de ratos, praga que não dava tréguas aos habitantes, e sobretudo aos seus queijos. Até ao dia da chegada do tocador de flauta, de veste garrida e alegando ser exterminador de ratos. Aprazado o preço de um xelim por cada bicho morto, soou a flauta e a rataria, saída de tudo quanto era toca, seguiu enfeitiçada a melodia e o encantador até ao rio, onde viria a afogar-se. Era o alívio do povo.

 Adaptando ao cenário político atual, a música vinda da flauta do impeachment, tem atraído toda a sorte de parlamentares corruptos como uma tábua de salvação para seus próprios pescoços. A alternativa Temer, como manobra diversionista, a tirar o foco da opinião pública sobre a longa lista de acusações de corrupção envolvendo os principais artífices do golpe, a começar pelo deputado Eduardo Cunha, cujas denúncias apontam valores superiores a R$ 52 milhões desviados ou recebidos como propina. O próprio Michel Temer recai denúncias envolvendo articuladores políticos diretamente ligados a ele, como ex-ministro Eliseu Padilha, envolvido em denúncias de milhões desviados em obras públicas.



 Como se fosse música, o impeachment atrai aos ratos do golpismo, pouco preocupados com a manutenção da própria democracia e a situação política e institucional que esta aventura poderá conduzir o país.

A lista de denúncias envolvendo os principais apoiadores da deposição da presidenta Dilma é quase tão vasta quanto o código penal, como envolvidos em desvios de dinheiro público, sonegadores, trabalho escravo, assassinatos, além de inúmeros acusados no âmbito das investigações da Lava Jato (importante lembrar que mesmo com todo enviesamento das investigações, jamais o nome de Dilma foi implicado), alias, muito se comenta um processo de esvaziamento da própria operação Lava Jato, com uma vitória de Temer, entregando-se apenas mais algumas "cabeças menores", abafando ao caso em pouco tempo.

Um sinal disto foi o fato de no longo discurso vazado por Temer, em nenhum momento o tema da corrupção foi citado. Corrupção esta que tem sempre sido evocada nos movimentos de contrários a Dilma. Fato observado até mesmo pelo jornalista Elio Gaspari, conhecido crítico ao governo Dilma, em artigo na Folha de SP.

A busca de apoios a parlamentares para endossar o impeachment, expondo Temer a um papel ativo na conspiração para levá-lo a presidência, tem se valido muito desta prerrogativa. "Tirando-se a Dilma, a "poeira irá baixar" e tudo voltará a ser como era antes", tem sido uma das máximas repetidas pelos articuladores da oposição.

Corruptos querendo depor uma presidenta honesta é um trágico paradoxo do frágil momento de nossa democracia.

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