Homenagem ao traidor
Tempos estranhos estes onde a traição explicita é encarada por alguns como simbolo redentor e não como aquilo que realmente é.
Mudar de posição política não é um pecado, mas passar para o lado adversário em um momento de crise, renegando a tudo que fez e defendeu até então, é muito diferente. Como se todo um passado deixasse de existir em um único ato, passando a ser apenas um presente infame a única realidade possível.
A lembrança de Joaquim Silvério, nos versos de Cecília Meirelles vêm bem a calhar para este momento.
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros...
-- e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glória, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso impenitente,
com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)
Por Cecília Meirelles, do "Romanceiro da Inconfidência"
Poema resgatado pelos Jornalistas Livres.
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