Suprimir a democracia sempre provoca um grande desgaste para aqueles que promovem ou apoiam atos ilegítimos de ruptura democrática. A necessidade de legitimação social é indispensável para qualquer regime ou governo moderno que busque alguma continuidade, por isso a necessidade de não assumir abertamente a autoria de expedientes golpistas.
O processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff é um caso onde esta ausência de legitimidade é tão flagrante, que muitos dos conspiradores tentam, de todas as formas, produzir uma retórica que cubra com "tintas constitucionais" a legitimidade política perdida. Esta legitimidade ausente no impeachment e a difusão da percepção que a democracia brasileira, como um todo, encontra-se em sério risco, tem muitas razões, a mais evidente delas é o fato do processo estar sendo conduzido pelo deputado Eduardo Cunha. Notório corrupto, nunca disfarçou suas motivações em levar a cabo o processo contra presidenta, a despeito da inexistência de acusações de crimes contra Dilma.

A amplitude da ameaça de ruptura democrática não se restringe a destituição de Dilma. A supressão de direitos e liberdades democráticas já é uma situação colocada, ainda que de forma opaca, dificultando sua percepção para parcelas mais amplas. A derrocada da via política por ação de um congresso corrupto, pode propiciar as condições ideias para que uma verdadeira ditadura do judiciário se instale no país. (veja mais aqui.) Esta é uma possibilidade real colocada, mas longe de estar plenamente constituída, havendo ainda margem para frear esta via.
O espaço para uma resistência cidadã é considerável e poderá ter força para a manutenção dos mecanismos democráticos existentes. O momento é de resistência, a necessária ampliação da nossa combalida democracia encontra-se momentaneamente impossibilitada, fora da agenda política por uma correlação de forças instável e ainda desfavorável.

Impeachment contra a presidenta Dilma é golpe. Essa verdade inconveniente, por mais que se tente negá-la, não mudará seu real sentido. Retirar do poder um governante, sem crime algum contra ele, por obra de um arranjo de forças políticas, não encontra legitimidade concreta. Lutar contra fatos desta natureza é sempre uma batalha perdida para aqueles que buscam na manipulação o seu refúgio.
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