Aventuras no Marxismo de Marshall Berman



O escritor e filósofo estadunidense Marshall Berman (1940 - 2013) figura na lista de meus autores prediletos. Conhecido mundialmente pela sua obra Tudo que é sólido desmancha no ar um ensaio de crítico de fôlego sobre a história da vida moderna, que inclui da poesia de Baudelaire ao Manifesto Comunista de Marx e Engels, do Fausto de Goethe, as vanguardas artísticas do século XX até as reformas urbanas de Nova York ao longo do século XX. A modernidade emerge como um processo globalizante e totalizante, cujo sentido é a subordinação da vida cotidiana ao impulso homogeneizante do valor de troca.

Uma outra obra sua que foi publicada no Brasil é Aventuras no Marxismo. Uma coletânea que reúne treze textos escritos que percorrem um período de trinta anos da produção intelectual de Berman e traz um amplo leque de reflexões a partir de alguns intelectuais que, a exemplo do autor, dedicaram-se a interpretar os caminhos e descaminhos da modernidade.

Aventuras no Marxismo
Marshall Berman
 Companhia das Letras
É difícil destacar apenas um dos seus artigos, ainda que não seja uma obra "fechada", é marcante uma continuidade em suas reflexões. Berman alia a análise de temas políticos, filosóficos e culturais a uma visão saborosa da vida cotidiana de Nova York. É assim que, durante um passeio de ônibus pelo Bronx, ele observa a jovem negra que tranqüiliza a mãe, aflita com a possibilidade de uma gravidez precoce: "Não se preocupa, não, mãe. A gente é moderna. A gente sabe se cuidar". O olhar de Berman é o de um observador sensível às contradições e sutilezas que compõem a vida da "gente moderna".

Para ele, Marx foi o principal crítico “moderno” da modernidade capitalista, a história seria aberta a ação humana, a partir das possibilidades que a própria modernidade apresenta, sem negar todo seus aspectos críticos. Que se manifestaria, como Berman descreveria, " O que mais importa para ele são os processos, as for,as, as manifestações da vida e da energia humanas: homens trabalhando, deslocando-se, cultivando, comunicando-se, organizando e reorganizando a natureza e a própria humanidade - os novos e interminavelmente renovados modos de atividade que a burguesia trouxe à luz" (p.122)

Desta perspectiva, de identificar no seio do próprio capitalismo e de seus avanços, as possibilidades de sua própria superação, permitiam que, mesmo tendo diante de si um mundo permeado por injustiças de toda a natureza e cuja correlação de forças históricas não eram objetivamente nada promissores, Marx mantinha-se um otimista. "Esse reconhecimento permite que ele cresça em sensibilidade e percepção e que avance para além dos limites de sua aflição e amargura egoísta." (p.142).

Para Marshall Berman "A força do marxismo sempre esteve em sua disposição de partir de realidades sociais amedrontadoras, empenhar-se para desvendá-las e lutar para superá-las" (p.162)

Por isso que em sua trajetória de quarenta anos de "aventuras" com o marxismo não o fizeram se esquecer do dia em que, ainda garoto, entrou numa livraria e encontrou um exemplar dos Manuscritos econômico-filosóficos de Karl Marx. Seu entusiasmo não arrefeceu com o passar dos anos. Ao contrário, o fracasso dos regimes comunistas só fortaleceu a ideia de que a retomada de um marxista renovado se mostra cada vez mais necessário.

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