Retratos de um mundo louco: o cavalo chic


O sistema capitalista demonstra uma capacidade formidável em produzir e reproduzir exaustivamente mercadorias e valores com pouca ou nenhuma utilidade social. Mais do que isso, produz bens materiais e imateriais que não apenas são supérfluos, como expressam a própria irracionalidade e loucura sistêmica que imperam no mundo.

O fetiche das mercadorias e a mercantilização plena de todos os aspectos sociais da vida se aprofundam na mesma medida em que sistematicamente da provas de exaustão deste modelo.

No terreno da cultura, por exemplo, mesmo exausto e enfadonho, a industria cultural não cessa de dilatar todas as fronteiras possíveis com a sua capacidade de produzir lixo cultural em uma profusão inimaginável. Lixo que muitas vezes é elevado a categoria de elevado "artefato cultural", quando efetivamente não o é.

O avanço técnico gera uma profusão imagética em que tudo é coberto de uma veloz efemeridade como forma de produzir a falsa sensação do "novo", quando não passa de repetições e imitações simplificadas e empobrecidas de um mesmo fenômeno.

Não existem limites aparentes, sejam eles morais ou éticos, para esta lógica, ou melhor, o único limite estabelecido é a potencialidade ou a capacidade de gerar lucros.

Um exemplo é o cavalo chic: roupa para cavalos, em diversas estampas, reproduzindo a aparência de outros animais, como zebras ou girafas, desenvolvida pela grife da britânica Jessica Clark. Não existe nenhuma necessidade para o animal utilizar uma vestimenta desta natureza, pelo contrário, provavelmente deve gerar um profundo desconforto para o equino.

A roupa tem o objetivo de deixar os cavalos com uma "aparência mais agradável" para seus donos, podendo usar variados estilos. Este é daqueles momentos que o ridículo, o trágico e cômico se misturam em uma mesma sinfonia do absurdo, mas que nos dias de hoje é apresentada com naturalidade.
O que impera aqui é esta tentativa de gerar "valor agregado" para uma necessidade inexistente e que se esforça para produzir o aperfeiçoamento do que já de antemão não tem valor de uso algum.

Este fenômeno escancara um processo que, no geral, passa desapercebido para muitas pessoas e que são os retratos de um mundo louco, nova seção que se inicia no blog do Sul do Mundo, onde regularmente traremos situações que retratam esta irracionalidade vendida como racional no capitalismo contemporâneo, que segue em sua penosa marcha decidida e irresoluta rumo ao abismo.


#retratos de um mundo louco

Nenhum comentário:

Postar um comentário