2016 e o golpismo no Brasil e na Venezuela


No ano de 2016, houve duas tentativas declaradas de golpe na América Latina: uma no Brasil e outra na Venezuela.

Ambas surgiram como fruto de processos políticos que desenrolam-se já há alguns anos, não frutos de excepcionalidades que abateram-se de forma inesperada neste ano. Não apenas por dinâmicas locais, ainda que estas sejam importantes para entender o desfecho destinto de cada país, a crise econômica foi um fator importante para alimentar as forças golpistas de cada país. Apoios externos houveram, com importância ainda não mensurável, pela ausência de informações.

No caso brasileiro, não só o golpe teve sucesso como o país caminha de forma acelerada para uma verdadeira tragédia social. A agenda de supressão de direitos e de redução do Estado irá provocar regressões de todo o tipo, isto somado ao arbítrio e o caos orquestrado pelas elites promotoras do golpe, prometem levar o país a uma instabilidade aguda, de imprevisível desenrolar.

Na Venezuela, o golpe foi por hora frustrado, mas a situação social do país está longe de ser animadora. Ainda assim, a manutenção do poder presidencial com Maduro pode permitir uma melhor condição de recuperação no médio prazo, ainda que em bases instáveis.


O futuro da resistência contra uma possível tentativa de criar na na América Latina uma onda de ditaduras de "novo tipo" (agora sem os militares e com aparência legal) depende, em grande medida, da continuidade da esquerda à frente da Venezuela. Esta importância é menos por suas reais condições de apoio material as forças de esquerda pelo continente - que inexistem - mas por sua importância simbólica.

Esta é a razão para que as direitas em toda o continente construam, diuturnamente, uma campanha de demonização da chamada Revolução Bolivariana. O simbolismo negativo criado serve a uma função mobilizadora para o conservadorismo similar ao anti-comunismo dos tempos da Guerra Fria. Fatos são distorcidos e manipulados a todo o instante, tornando esta construção imagética anti-chavista potencializada.

Por essas razões que em 2017 não restam dúvidas que uma das principais arena de lutas sociais no mundo será o solo venezuelano. Os olhos ao redor do planeta estarão voltados para os capítulos decisivos do embate entre as forças que buscam derrubar o presidente Nicolás Maduro e o chavismo que irão resistir. e recuperar uma condição de ofensiva, ainda possível, dependendo do acerto dos próximos passos a serem dados tanto por Maduro, quando pelo conjunto dos atores da esquerda e das forças populares venezuelanas.

O apoio, ainda que crítico, a continuidade da esquerda bolivariana a frente do governo é um imperativo que se coloca não apenas para a esquerda, mas a qualquer indivíduo que se julgue defensor da democracia. Mais um governo democraticamente eleito derrubado na América Latina seria um trinfo decisivo para o avanço da supressão da democracia em todo o continente.
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