A democracia ainda pode ser salva no Brasil?
A democracia ainda pode ser salva no Brasil? Sim, é nestes termos que a nossa atual encruzilhada política está colocada. Alguns incrédulos podem dizer que não passa de alarmismo de minha parte, que na verdade estamos vivendo é apenas o "esgotamento do PT" e o avanço no combate a corrupção. Seria o esgotamento deste sistema politico, o povo quer "que se vão todos os políticos". Alguns mais radicalizados ainda, poderiam lançar impropérios de toda a natureza, me acusar de "governista", "petralha" e outros adjetivos de igual natureza e dizer que não existe tentativa de golpe. Esta última opção eu acho que é mais improvável de acontecer, pois sabemos o quanto os conservadores anti-PT não são afeitos a leitura, afora a revista Veja, eventualmente. Quanto a estes, a interdição ao debate já é uma condição intransponível, não sendo possível qualquer debate, pelo menos no curto prazo. Minha preocupação maior aqui é com aquelas e aqueles que são genuinamente de esquerda ou apenas democráticos e não perceberam ainda a gravidade do momento brasileiro.
A lógica punitiva, permeada pela seletividade, está conduzindo a sociedade brasileira para um caminho autoritário, onde a legalidade deixa de ser uma prerrogativa a ser respeitada. Se a forma arbitrária com que é conduzida as investigações contra Lula, onde inúmeros preceitos legais e constitucionais de defesa de qualquer cidadão são simplesmente desrespeitado; quando a ilegalidade na fabricação de "provas" passa a ser um verdadeiro modus operandi, sem ter aparente limites, não são elementos suficientes, os últimos movimentos dados neste dia 16 de março parecem ser conclusivos. O vazamento ilegal de grampos ao ex-presidente Lula, pelo Juiz Sérgio Moro, para imprensa, com especial destaque para a postura abertamente manipulatória da Globo, colocaram a situação em um novo patamar. A agenda do golpe se acelerou, os contornos legais que até então a oposição buscava dar ao processo de deposição da presidenta Dilma deixaram de ser relevantes.
A intenção é clara: acelerar o acirramento do clima político para precipitar uma ação extra-constitucional que derrube o governo e promova um rearranjo conservador das velhas elites com o consórcio golpista. Mas não terminará aí. O fim do governo Dilma será apenas o começo. Na sequência irá se acelerar a perseguição política e judicial contra tudo e todos que seja ou se pareça com a esquerda. Prender Lula e outros dirigentes políticos, independente da existência de provas, será um fato dado. O crime de opinião volta a ser um delito, ou não é isto que estamos vendo com o alarmismo entorno do conteúdo das gravações de Lula? Nenhum dos diálogos grampeados de Lula apresentam qualquer indício de crime, apenas conversas políticas, com conteúdos que podem ser questionados ou contrariados, mas afora isso, não resta absolutamente nada além do mais puro e rasteiro factoide, Ouçam a íntegra das gravações, e não apenas a edição da TV, caso tenha alguma dúvida (só acessar neste link http://ht.ly/ZDZyz ).
Os protestos conservadores que se seguiram a divulgação dos áudios, tem registrado um acirramento assustador. Tivemos diversas manifestações de ódio, intolerância e agressões físicas contra pessoas acusadas de serem de "esquerda" ou simplesmente por andarem nas ruas usando roupas vermelhas. (veja mais aqui). A Globo, por sua vez, não noticiou absolutamente nada, frisando nos telejornais que todas as manifestações são "pacíficas" e "democráticas". O que dizer disso?
Está se ultrapassando o limite da legalidade. A questão deixou de ser de "defesa" ou "repúdio" ao governo, até porque este governo não pode ser defendido. Quem ainda acha que a discussão está nestes termos, não percebe a gravidade da ofensiva conservadora em curso. O momento para a necessária crítica e balanço deste governo, do PT e da própria esquerda como um todo, deve ser momentaneamente suspenso. Defender a democracia é o centro, neste momento.
Volto a questão inicial, ainda temos como impedir o golpe? Ainda existe espaço para barrar esse grave retrocesso institucional que se desenha no horizonte? A correlação de forças atual é desfavorável, mas não irreversível. Uma rápida e vigorosa reação dos setores democráticos da sociedade civil, que amplie socialmente, podem desacelerar este processo no horizonte imediato. Mas não necessariamente barrá-lo, pois a agenda do golpe, aparentemente não irá descansar. O caldo de cultura autoritária é vigoroso.
Uma pequena amostra do que o bloco conservador pretende fazer com o país está expresso na agenda de retrocessos que está atualmente no congresso. Nem mesmo princípios aparentemente consagrados, como a CLT e o conjunto de direitos sociais estarão seguros. Projetos como o Escola Sem Partidos, que pretende censurar e cercear o exercício docente, ganhariam novo vigor, contribuindo para o avanço de um estado quase de exceção, mas com contornos falsamente democráticos.
Mas como mencionei antes, ainda que por uma margem estreita e permeada por dificuldades, temos ainda chance de barrar este processo. Todo o tipo de ação cidadã, como protestos pacíficos, caminhadas, vigílias, flash mobs, criação de comitês em defesa da democracia, abaixo-assinados, manifestos, etc, toda a ação coletiva deve ser estimulada e impulsionadas. Assim como ações individuais também são válidas, dialogando e debatendo nas redes, com os vizinhos, amigos e familiares, ou mesmo outras ações criativas que podem ajudar a furar o bloqueio. Tudo isso, no entanto, frente a diversidade e potência das armas usadas pelos golpistas podem parecer insuficientes. Ações intimidatórias deles não irá cessar, mas como Davi, podemos derrotar este gigante chamado golpe, não devemos nos intimidar!
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