Não era só tirar a Dilma que a economia melhorava?



"É só tirar ela que resolve", esta difusa e trabalhada ideia  ganhou corpo, construindo a noção de que a síntese de todos os problemas do país estavam personificados na Presidenta Dilma Rousseff. Foi esta saída vendida como uma solução milagrosa para os problemas da nação, mobilizando muitos setores da sociedade para a campanha do "Fora Dilma", dando força para o avanço do processo de impeachment. Bastaria tirar a Dilma para termos a solução para toda a crise.

Se é verdade que houveram uma conjunção variada de fatores que possibilitaram a conjuntura brasileira atingir este grave momento - como os erros políticos do governo, a instrumentalização política de setores do judiciário, o cerco midiático, etc - a crise econômica foi um fator igualmente importante, fundamental para cimentar uma efêmera e significativa unidade entre um grau variado de setores sociais e agentes políticos na agenda do golpe. Os reveses na economia foram catalizadores da revolta que levaram milhares as ruas pela queda da Presidenta. Mas não foi o desemprego em alta que mobilizou - as classes sociais mais atingidas pouco estiveram nas ruas contra a Dilma - o que realmente fez a diferença foram as frustrações de consumo da classe média, que garantiu uma amplitude de massas que a direita brasileira historicamente jamais teve, e ainda não tem.



Afirmar taxativamente que todos que estiveram nas ruas pelo impeachment eram de classe média, seria incorreto, assim como também  não se pode negar o fato que muitos setores que poderiam ser enquadrados como da classe media foram as ruas lutar contra o golpe. Homogeneidade de classe só funciona no papel. Por outro lado, os segmentos mais importantes e numerosos da classe média, privilegiada por suas conquistas "meritocráticas", transbordaram suas frustrações acumuladas desde a derrota de Aécio Neves no segundo turno para a Dilma, em uma onda crescente pelo impeachment, só tornada possível pelos problemas na economia.

Entre estes fatores econômicos, um que merece destaque foi a alta do dólar. Nada revoltou mais a classe média brasileira quanto o dólar alto!

A cotação do dólar gerou todo tipo de frustração causada por impedimento ou adiamento de sonhos de consumo variados. Quase como se um "direito" estivesse lhes sendo negado. O uso político desta insatisfação foi cotidiano. Qual seria o motivo deste aumento do dólar? Ou melhor, quem seira a "culpada"? Dilma, obviamente.



Um exemplo disto foi em outubro de 2015, quando uma família protestou em Brasília por ter sua ida aos EUA adiada devido ao dólar alto. Fantasiados de personagens da Disney e com um cartaz com uma foto da Presidenta, denunciavam o seu sonho não realizado. O pequeno protesto, como em tantas outras ocasiões, ganhou grande exposição na mídia.


Para o dólar voltar a cair, a solução seria simples, bastaria tirar a Dilma, como afirmou o Itagiba Preta Neto. Para quem não lembra, esse foi o juiz federal do Distrito Federal que entrou com uma liminar para suspender a posse de Lula como ministro.

Análise sobre os cenários externos que colaboraram para a variação na cotação do dólar foram completamente abandonados em nome da instrumentalização política de uma insatisfação momentânea.

Outro indicador econômico que afetou a classe média, mas em um menor número, foram as oscilações negativas na bolsa de valores. A solução, da mesma forma, passaria pelo impeachment. Não faltaram consultores e empresas especializadas em investimentos que apontavam um cenário de melhora após a queda da Dilma.

Primeira fase do golpe consumado, Michel Temer empossado presidente interino e a "Ponte para o Futuro" de prosperidade econômica para o Brasil se abririam.


O lema agora é "Não pense em crise: trabalhe!".

O resultado efetivo, após um período de tempo onde já se esperaria que os resultados prometidos apareceriam, no entanto, foi bem diferente.




Os primeiros resultados econômicos não são nada animadores. O Ibovespa (índice da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo) encerrou o mês de maio com uma desvalorização acumulada de 10,09%. No câmbio, a cotação do dólar fechou com valorização de 5,01%, após três meses seguidos de baixa.

A fragilidade política que tem demonstrado o início de governo do presidente interino, já com uma coleção considerável de escândalos políticos de toda a natureza, tem alimentado um clima de incerteza generalizada, que tem se refletido nos mercados especulativos. As medidas anunciadas, mesmo que todas sejam aprovadas em seu conjunto, tendem a agravar ainda mais o cenário da economia brasileira.

As expectativas dos setores sociais que foram as ruas pelo impeachment deverá rapidamente ceder espaço a novas frustrações. Não se pode antever se muitos daqueles irão novamente as ruas ou mesmo se terão novamente algum tipo de protagonismo político, mas é fácil prever que a já baixa legitimidade e apoio que detêm Michel Temer irá se liquidar. 






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