O campeão eterno Muhammad Ali



Um dos maiores atletas do século XX, poucas figuras representaram tanto para o esporte como o boxeador Muhammad Ali. Transcendendo limites e colocando o próprio papel do esporte na sociedade em questão, foi um gigante, um campeão eterno.

Tricampeão mundial dos pesos-pesados e campeão olímpico aos 18 anos, sua trajetória esportiva andou em paralelo ao seu papel como ativista durante os conflitos sociais dos anos sessenta nos EUA. Engajado nas lutas contra o racismo e pelos direitos civis, posicionou-se ao lado dos movimentos pacifistas contrários a Guerra do Vietnã. Esta sua oposição não foi apenas retórica: devido à sua recusa ao recrutamento obrigatório, foi condenado a cinco anos de prisão e perdeu o direito de boxear. “O Vietcong não me chamam de ‘nigger’”, disse. Nigger é a palavra mais pejorativa usada para se referir aos afro-americanos nos EUA.


Entraria com recurso e o Supremo Tribunal lhe deu razão em 1971, como objetor de consciência ao serviço militar, e conseguiu voltar ao ringue, onde participou e venceu duas lutas extravagantes e lendárias: o Rugido da Selva no Zaire (atual República Democrática do Congo), em 1974, contra George Foreman; e, no ano seguinte, em Manila (o combate conhecido como Thrilla in Manila) contra Joe Frazier.

Cassius Clay, o seu nome de batismo, nasceu em Louisville (Kentucky) em 1942. Quando já havia sido campeão e já detinha um consideravel prestígio, se converteu a uma religião estranha para a maioria dos norte-americanos. Descendente de escravos anônimos, escolheu ele mesmo seu nome e religião: influenciado pelos ensinamentos do grupo religioso Nação do Islã, adotou o nome de Muhammad Ali. “Não quero ser o que vocês querem que eu seja”, disse à época.

Malcolm X e Muhammad Ali, Nova York, 1963
Ali forjou sua consciência como reação as humilhações que sofreu da segregação racial, mas sempre proclamou sua identidade com orgulho. Modéstia era algo que não combinava com suas atitudes públicas. Um exemplo foi quando ganhou o campeonato mundial contra Sonny Liston. e disse: “Sou o melhor! Sou o melhor! Sou o rei do mundo”. Como ativista, suas posições tinham muito mais a ver com o estilo desafiador de Malcolm X do que com o ecumenismo de Martin Luther King na defesa dos direitos civis do povo negro.

Seguramente Ali não foi apenas um dos maiores esportistas de seu tempo e talvez o maior boxeador da história, foi muito mais do que isso. Ali foi um ícone da cultura de massas. Sua imagem se projetou para outros domínios culturais, figurando ao lado de outros grandes ícones de seu tempo, como Bob Dylan, os Beatles, foi retratado por Andy Warhol, até mesmo o Superman teve seu encontro com o campeão do boxe.

Muhammad Ali retratado por Andy Warhol

Aposentou-se no início dos anos oitenta e logo depois foi diagnosticado com Parkinson. Iniciou então sua etapa dedicada a causas humanitárias. Ao longo dos anos, o polarizador se tornou uma figura de consenso, celebrada por brancos e negros, de direita e de esquerda. Prova disso que George W. Bush o condecorou. Como sintetizou jornalista Marc Bassets, "Muhammad Ali, um dos maiores atletas do século XX, um homem que se reinventou várias vezes e foi o espelho dos traumas e conflitos dos Estados Unidos de sua época." Sua morte neste 04 de junho de 2016, em um momento que antecede ao fim do mandato do presidente Barack Obama, parece encerrar um momento histórico para os EUA.

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