Por Laura Carvalho
Quando indagado sobre o espaço aberto por crises econômicas para o fortalecimento do campo progressista, Yanis Varoufakis, em palestra proferida em 25/4, na New School, em Nova York, foi categórico: “Tempos de grave recessão não são tempos revolucionários, são tempos que criam monstros”.
A resposta pode à primeira vista parecer contraditória com a sua própria experiência recente enquanto ministro da Fazenda da Grécia por um partido de esquerda que deve boa parte de sua existência – e certamente de sua vitória nas urnas – à grave crise que assola o país. Quiçá o fracasso de Varoufakis nas negociações com a Troika formada por União Europeia, Banco Central Europeu e FMI tenha lhe tirado o que restava de otimismo.
O estudo dos economistas Hans Grüner e Markus Brückner, realizado a partir de dados de 16 países da OCDE entre 1970 e 2002, parece dar razão a Varoufakis quando conclui que uma redução de 1% na taxa de crescimento econômico tende a elevar em 1% a participação dos partidos de extrema direita no total de votos. O crescimento recentenas pesquisas de intenções de voto de um candidato que faz apologia pública à tortura sugere que o Brasil não foge à regra.
No livro The Moral Consequences of Economic Growth, o professor de economia política de Harvard Benjamin Friedman parte de vasta evidência histórica para defender que o crescimento econômico não é um facilitador apenas de melhorias materiais, mas também da liberdade, da tolerância, da justiça e da democracia. A estagnação e a prosperidade mal distribuída, ao contrário, tenderiam a fomentar o aumento da violência e o surgimento de ditaduras.
Friedman trata, no entanto, de uma importante exceção à regra. Nos anos de 1930, os Estados Unidos conseguiram fortalecer os valores democráticos em meio à Grande Depressão. O autor atribui essa sorte ao New Deal do presidente Roosevelt, que qualifica como uma tentativa de “espalhar a oportunidade econômica o mais amplamente possível”. Considera que, em vez de procurar “bodes expiatórios para excluir”, o caminho escolhido foi “deliberadamente pluralista e inclusivo”, com o objetivo não somente de restaurar a prosperidade econômica mas de criar maior igualdade de oportunidades.
Ainda que hipóteses históricas nunca sejam universais, como apontou o historiador Alexandre Gerschenkron, a opção por não realizar uma reforma tributária e por abandonar os investimentos públicos em prol da implementação de políticas recessivas e excludentes – no governo Dilma Rousseff e, mais ainda, em um eventual governo Temer sem legitimidade – parece, no caso brasileiro, nos tirar do caminho da exceção e nos colocar na espiral descendente do agravamento da crise econômica, do aumento da intolerância e do enfraquecimento da democracia.
*Artigo publicado originalmente no site Outras Palavras
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