México: violenta repressão contra professores deixa 6 mortos



A tensão social no México tem atingido dimensões cada vez mais dramáticas. Um novo capítulo desta travessia turbulenta foi no estado de Oaxaca, no sul do México, onde cinco professores e um jornalista morreram, além de um saldo de dezenas de feridos, após uma violenta repressão policial contra manifestação dos professores em greve.

Trabalhadores que integram a Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) do Mexico iniciaram, no último dia 15 de maio, após três anos de luta, uma greve geral para dizer não a reforma educacional proposta pelo governo do presidente Enrique Peña Nieto, que prevê cortes nos direitos trabalhistas.

Policiais mexicanos flagrados fortemente armados para investir contra os professores.

O paradoxo que torna ainda mais absurda a situação ocorrida neste 19 de junho de 2016 é que se repetem as cenas de guerra entre professores insatisfeitos e as forças de segurança mexicana vividas à exatos dez anos atrás, quando em 2006 tivemos uma situação muito similar.

A greve dos professores atinge 28 dos 32 estado mexicanos, mas se concentra nos estados do sul, em Chiapas, Oaxaca e Michoacan. No domingo (19), forças da polícia estadual de Oaxaca e a polícia federal mexicana se dirigiram à Asunción Nochixtlán, município próximo a capital oaxaqueña, para despejar os professores que bloqueavam a estrada Oaxaca-México como forma de protesto.

De acordo com o jornal La Jornada, a operação repressiva começou por volta das 10:30h e se estendeu até o inicio da noite, deixando como saldo 6 mortos, mais de 90 feridos e 21 detidos. A ação policial, que contou com armas de fogo, bombas de gás lacrimogênio, helicópteros e centenas de agentes, fez da estrada um campo de batalha. Os manifestantes resistiram, com o apoio de pais, alunos e pessoas contrárias à reforma, que ajudaram a construir barricadas para evitar a aproximação dos policiais.

A CNTE informou que cinco dos mortos eram professores (Andrés Aguilar, de 29 anos; Yalid Jiménez, de 22; Óscar Santiago, de 22; Jesús Cadena, de 19 e Anselmo Cruz, sem idade divulgada). O outro morto durante o ataque foi o repórter local Elpidio Ramos, que fazia a cobertura do confronto para o jornal regional El Sur.

Protesto no dia seguinte a repressão em solidariedade aos professores e contra a violência policial.


Em uma conjuntura marcada pelo enfraquecimento do papel social do Estado, assaltado por interesses privados e estrangeiros e com forte envolvimento com o crime organizado, ao ponto de alguns já utilizarem a expressão "Narcoestado" para caracterizar a situação mexicana, a luta dos professores e uma violenta e covarde repressão se apresenta como uma alternativa de resistência a este estado de coisas. Pela força da mobilização e pelos desdobramentos que o caso deverá ter, é muito possível que a reforma educacional seja definitivamente enterrada, preservando aspectos fundamentais para a cidadania do povo mexicano.


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