A dignidade como arma contra a intolerância
Os tempos de intolerância radicalizada em que o Brasil passa deixarão suas cicatrizes profundas. Toda a carga de ódio emulada nas ruas cobrará um custo social elevado. Não é possível mais encontrar um ponto de retorno, o perverso caminho aberto pelo sectarismo obscurantista fragiliza ainda mais as débeis instituições democráticas que até então regularam a sociedade brasileira.
A consumação do golpe dará o folego necessário para que o ódio de classe se converta em uma política de Estado, com pretensões hegemônicas totalitárias. Caracterizar o que ocorre no Brasil como uma contrarrevolução não é nenhum exagero.
Só o que lhes falta, até o momento, é uma liderança com força política suficiente para dar coesão a esta contrarrevolução. Temer e o PMDB não possuem os predicados mínimos para isso, podendo eles próprios serem descartados e vitimados pela sanha persecutória.
O risco real é que a intolerância social que hoje demonstra uma força considerável se converta efetivamente em um novo tipo de fascismo, com condições de deslocar o centro político definitivamente para sua orbita.
Este novo fascismo brasileiro se desavergonha em bradar seus preconceitos contra tudo e contra todos que não estejam enquadrados em seus ideais distorcidos do que é certo ou errado. Racismo, machismo, homofobia, fanatismo religioso, anti-comunismo, entre tantos outros preconceitos, tem servido como combustível para ampliar e cooptar mentes desavisadas e sem esperanças.
Este fascismo social já se encontra bem posicionado em funções chaves do Estado e com considerável força parlamentar. Também conta com considerável apoio nos grandes veículos de comunicação do país e uma simpatia velada de parte do empresariado. Alguns justificam seu apoio a esta agenda ultra-conservadora apelando para a desculpa de este ser um "mal necessário".
No entanto, eles ainda não possuem uma vitória plena e talvez jamais consigam. A resistência democrática existe e persiste. Uma reação das forças democráticas, em seu mais variado espectro, já tem buscado reverter esse cenário. A força social que foi as ruas em defesa da democracia e contra o golpe, ainda que não tenha tido o vigor necessário para reverter nas ruas o golpe parlamentar, não poderá ser ignorada e menosprezada.
A maior das armas para enfrentar a escalada da intolerância é a dignidade. É a justeza de propósitos contra uma irracionalidade que representa uma falsa solução. Não devemos aceitar as intimidações e ameaças. Entre tantos exemplos que poderia trazer, escolhi um caso que ocorreu em uma das manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma na Av. Paulista, na capital de São Paulo. Naquela ocasião, uma senhora vestida de vermelho deu um exemplo de sabedoria Enquanto muitos manifestantes a ameaçava com agressões físicas e gritavam impropérios de toda a natureza contra ela, - demonstrando toda a intolerância "verde-amarela" - ela manteve sua postura digna e sem se deixar abalar, reservou-se a recomendar a aqueles que a ofendia que fossem estudar.
O poder do exemplo, ainda que não produza soluções rápidas e milagrosas, é poderoso e provoca mudanças duradouras. Manter a firmeza de propósito nestes tempos é um dever, só possível entre aqueles e aquelas que acreditam que uma sociedade democrática e com justiça social, longe de ser um mero ideal a ser buscado, é uma necessidade viável que se impõe para o país, mais ainda nestes tempos intolerantes e de retrocessos.
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