Era Macri eleva pobreza na Argentina a níveis alarmantes
O presidente da Argentina Maurício Macri se apresentou nas eleições como alguém decidido a tomar medidas que rapidamente recuperassem a economia de seu país. Chegou até mesmo a lançar como uma de suas principais bandeiras de campanha a ousada promessa de que ao termino de seu mandato alcançaria a "pobreza zero" no país.
Ele de fato rapidamente tomou uma série de medidas que abrangeram um amplo espectro da economia argentina, no entanto, passado os primeiros meses de governo, seus resultados não são nada animadores. Não bastasse a sonhada (e prometida) reação econômica não dar ainda nenhum sinal positivo, a “pobreza zero” avança na direção oposta.
A Argentina vive um acentuado e veloz processo de empobrecimento generalizado da população, como poucas vezes se viu no mundo, fora países em situação de guerra. Os dados são alarmantes e apontam que milhões de argentinos viram sua situação deteriorar-se para níveis de pobreza extrema.
Logo nos primeiros três meses de governo Macri, os impactos iniciais de suas políticas geraram mais de 1,4 milhão de novos pobres na Argentina, 5,5 pontos, de acordo com estimativas do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA). A causa principal é o forte aumento dos preços, especialmente das tarifas públicas e de alimentos, além da desvalorização do Peso, reduzindo drasticamente o poder de compra da massa assalariada.
Adotando um programa econômico neoliberal, Macri promoveu uma série de elevados aumentos nas tarifas de diversos serviços que a presidenta Cristina Kirchner mantinha com preço reduzido através de subsídios do Estado. Entre estes serviços, a eletricidade teve aumentos médios de 250% e, em casos específicos, de até 700%. As passagens de ônibus e ferrovias duplicaram, e o gás e a água tiveram aumentos ao redor de 300% em suas tarifas.
Na ausência de números oficiais, os dados do Observatório da UCA servem de parâmetro, muito respeitado neste assunto até pelos macristas. Eles asseguram que em meados de março cerca de 13 milhões de pessoas não tinham renda suficiente para satisfazer suas necessidades básicas, 34,5% do total argentinos. Tendo por base estes dados e com os efeitos das politicas postas após este levantamento, já se projeta que o número de argentinos deslocados para a pobreza deverá ser ainda maior, chegando a cifras superiores aos 4 milhões, podendo se aproximar de metade da população.
Esta situação de crise tem gerado uma intensa mobilização social em todo o país. Mobilizações massivas nas ruas e greves de diversas categorias tem sido frequentes, em um raro momento de unidade do movimento sindical argentino que tem buscado resistir aos efeitos mais perversos das políticas de Macri, que por seu lado tem respondido com forte repressão e propostas de redução de diretos e novas privatizações. Apesar desta unidade nas ruas, no entanto, a histórica fragmentação da esquerda argentina não tem dado ainda nenhum sinal de que poderá ser superada e converter-se em uma força capaz de superar suas diferenças em nome de um projeto comum.
É curioso observar que a opinião de muitos dos entusiastas da vitória Macri começam a rever seus prognósticos e começam a adotar tons mais cautelosos em suas análises. Aclamado pelo mercado no começo deste ano, a deterioração da economia provocada por Macri levou o FMI a projetar uma redução do do PIB de 1% neste ano e a Moody's prevê cenário pior: recuo de 1,5%. Em outubro, a agência falava em uma recuperação modesta para este ano, após baixa de 1% em 2015.
As taxa de juros estão extremamente elevadas, na casa dos 30%, o Brasil, por exemplo, está com 14%, provocando mais um fator de redução das possibilidades de investimento e recuperação econômica. Com uma inflação na casa dos 60%, o consumo tem sofrido sucessivas quedas, fechando em 2,3% no primeiro quadrimestre, segundo a consultoria CCR. O cenário que já era ruim em anos anteriores, tornou-se mais agudo. Nos períodos de janeiro a abril de 2015 e 2014, a redução no consumo foi de 1,1% e 1,5%, respectivamente.
Estes dados apontam para um agravamento das desigualdades sociais e retração econômica como horizonte para a "nova" Argentina da era Macri. O regresso de um governo neoliberal na Argentina tem mostrado que longe de representar uma nova via alternativa de desenvolvimento, poderá representar um retrocesso social em níveis nunca antes imaginados.
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