Comparando o incomparável: os casos de Letícia Sabatella e Janaína Paschoal


Em tempos de acirramento político no Brasil, cenas de agressão por motivos políticos começam a povoar o cenário com uma frequência perversa e recorrente.

No dia 31 de julho, a atriz Letícia Sabatella foi hostilizada por integrantes de uma manifestação anti-Dilma em Curitiba. O tom das agressões verbais extrapolaram diferenças políticas, recaindo no terreno pessoal e quase tendo um trágico desfecho de agressões físicas, impedida pela ação de policiais presentes no momento.

A situação mobilizou muitas pessoas nas redes e não tardou para surgirem alguns comparando a situação de Sabatella com outra ocorrida há um mês, com a advogada Janaína Paschoal, quando esta foi vaiada recebendo gritos de manifestantes pró-Dilma em um aeroporto.

Têm um erro básico nesta comparação: está se comparando o incomparável!


Por parte de militantes e apoiadores de forças da direita, a intenção desta comparação é evidente: relativizar e tentar minimizar o ocorrido. Sobre as intenções e equívocos deste argumento conservador não irei me alongar, pois ele é pueril por essência.

O quase linchamento da Leticia Sabatella  é mais uma demonstração do que são capazes os ditos "cidadãos de bem" quando estão juntos. Sozinhos são covardes, juntos são capazes de cometerem os maiores crimes imagináveis.

Não sou um defensor dos chamados "escrachos", mas reconheço sua eficácia, desde que pacífica, em determinadas situações. Não pretendo aqui debater este tema, mas destacar a sua diferença de fundo quanto ao seu objetivo político. Janaína Paschoal em nenhum momento sofreu qualquer ameaça de agressão física ou de ataques pessoais, enquanto com Sabatella foi o oposto, em um ataque que beirou a irracionalidade, o que por si só diferencia as situações.

O problema está em um outro espectro desta comparação. Refiro-me aos chamados "isentões" ou "acima dos muros" que tentam permanentemente se colocar fora da polarização política do país.

Por tentarem sempre se posicionar em uma "não-posição", acabam recaindo em uma armadilha.
Quando tentam colocar o quase linchamento contra a atriz Letícia Sabatella com as situações de hostilidade sofridas pela advogada-golpista Janaína Paschoal, equiparam o que não pode ser equiparado.

Nesta lógica, indiretamente coloca-se no mesmo patamar golpistas e democratas; defensores dos direitos humanos e fascistas defensores da tortura; feministas e machistas; negros e racistas; e por aí vai. Resulta-se em uma cadeia de equivalência onde vítima e agressor se confundem em uma gosma indefinida, bem ao gosto dos poderosos que buscam preservar o status quo.

Repudiar toda e qualquer forma de agressão não permite admitir essa comparação. Ser "isento" em situações limites, como a que vivemos, é ser tão responsável pelas arbitrariedades que ocorrem hoje no país quanto aqueles que as promovem abertamente.

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