A infame caçada ao Lula




O roteiro já estava pronto desde o ano passado, mas somente em 2016 ganhou a força necessária para o início do novo teatro dos horrores da direita brasileira, cujo título não poderia ser outro, senão: a infame caçada ao Lula.

Os motivos dela só vir a tona agora são por demais óbvios para exigir maiores explicações, mas ainda sim merece uma pequena explanação: com a campanha pelo impeachment da Dilma se esvaindo e perdendo força ao longo de 2015, ainda que não tenha morrido por completo, era chegado o momento de dar inicio a uma nova fase de sua estratégia para retomar o poder presidencial por vias não-democráticas: a destruição política do ex-presidente Lula.


Uma grande onda de denúncias contra Lula vieram a público, buscando dar a sensação para a população de que algo grave estava vindo a tona. A enxurrada de editoriais e matérias jornalísticas tentam servir como combustível para uma campanha que busca criminalizar Lula e com isso inviabilizar um possível regresso seu a presidência nas eleições em 2018. O “Comitê de Caça ao Lula”, ainda que não seja publicamente assumido, é constituído por uma ação articulada por amplos setores da Polícia Federal, do Ministério Público, dos grandes meios hegemônicos de comunicação e tendo como ponta de lança um juiz de província chamado Sérgio Moro como eixo estruturante para a campanha, que conta ainda, de forma auxiliar e subordinada, com os partidos de oposição como o PSDB e setores do PMDB.

Mas quais são os crimes que Lula teria cometido? Isso é um detalhe menor e sem importância. Como certeiramente apontou Eric Nepomuceno, “a grande imprensa e a direita ressentida já têm o culpado: Lula da Silva. Agora tratam de descobrir qual o crime cometido.” Apesar da onda denuncista, sua fragilidade é escancarada quando olhamos no que elas estão baseadas: num triplex em Guarujá que Lula jamais comprou e num sítio em Atibaia que Lula cometeu o crime de ousar frequentar em seus momentos de repouso. Não importa se o triplex o próprio Lula tenha admitido o interesse em comprá-lo (financiado e a prestação), mas que acabou desistindo do negócio; pouco interessa se o sítio de Atibaia tenha como um dos proprietários o filho de um velho amigo de Lula, Jacó Bittar (um dos fundadores do PT e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo) e que não deveria despertar maiores espantos o fato do ex-presidente, com sua família, frequentar com regularidade o sítio como espaço para seu descanso e laser. Até mesmo a compra de um pequeno barco de lata, sem luxo algum, foi usado para tentar manchar a imagem de Lula e sua família.

A questão, no fundo, não é essa. Se por ventura, a força tarefa montada contra Lula provar algo, melhor para seus planos, mas não é este o centro. O fundamental para a infame caçada ao Lula é desconstruir sua imagem, ferir de morte a figura da principal liderança popular que o Brasil já conseguiu forjar em sua história recente.

Fragilizar a força simbólica de Lula junto a massa da população brasileira é um dos lances principais para um projeto maior de eliminar o PT e a esquerda do cenário político nacional. Retirando a esquerda de cena, ficará muito mais fácil retomar os velhos padrões da elite brasileira, que se possível, não exitará nem um segundo em atacar a todos os avanços e conquistas dos governos petistas, mais ainda, se tiverem pleno sucesso em sua estratégia, a direita não disfarça seus sonhos em regressar para o período pré-Vargas e acabar com os direitos sociais e trabalhistas da população, como o PL 4330, das terceirizações, deixou por demais evidente.

Ingenuidade, pragmatismo e uma boa dose de miopia política ajudam a explicar uma parte das razões que levaram a este estado de coisas. São inquestionáveis os erros políticos do PT e do Lula em não criar mecanismos que reforçassem o papel da cidadania e evitasse que expedientes desta natureza ganhassem a força que ostentam. Parece que acreditaram que a direita teria abandonado sua velha herança golpista, que ao longo do século XX promoveu inúmeros golpes contra a participação popular, tendo seu momento máximo em uma longa e sangrenta ditadura em nosso país. Velhos hábitos das elites, aflorados por uma mal disfarçado ódio de classe, ressentido ao longo de mais de uma década de governos petistas tornam a cruzada infame contra a figura do Lula uma batalha cujo desfecho promete ser de graves consequências.

Denunciar esta trama, não aceitar seus termos sórdidos e defender a democracia, é o mínimo a ser feito neste momento.

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