Aquarius: um filme indispensável


O filme Aquarius, do diretor Kleber Mendonça Filho é um filme indispensável para pensar o Brasil atual Daqueles cujo entorno o projetam de tal forma que muitas vezes fazem a obra em si ganhar um sentido que seus idealizadores jamais poderiam projetar em sua concepção original.

O enredo do filme é centrado na figura de Clara (Sônia Braga), que mora de frente para o mar no edifício Aquarius, último prédio de estilo antigo da Av. Boa Viagem, no Recife. Jornalista aposentada e escritora, viúva com três filhos adultos e dona de um aconchegante apartamento repleto de discos e livros, ela irá enfrentar as investidas de uma construtora que tem outros planos para aquele terreno: demolir o Aquarius e dar lugar a um novo empreendimento.

Desde o lançamento de O Som ao Redor, elogiado longa de estreia de  Kleber Mendonça Filho, muita gente já aguardava o seu novo filme.  O fato de Aquarius ser o único filme latino americano a constar na seleção do Festival de Cannes de 2016 aumentou ainda mais as expectativas sobre o filme. Mas seguramente foram os elementos externos ao próprio filme que aumentaram sua repercussão. O principal fato foi o protesto realizado pela equipe do filme quando ergueram cartazes denunciando o golpe parlamentar brasileiro em pleno tradicional tapete vermelho de Cannes, minutos depois da extinção do MinC pelo governo então interino.


Nos meses que se seguiram a Cannes até sua estreia em setembro no Brasil, o filme gerou muita polêmica e discussões. Passou a ser alvo de ataques diretos das forças que compõem o governo golpista, tendo inclusive ações governamentais nesse sentido, aumentando sua classificação etária, por exemplo. A represália do governo Temer foi tão frágil e tosca que o próprio governo se viu obrigado a recuar.

Talvez a principal reação a gerar o efeito inverso ao esperado foi a campanha promovida por setores conservadores para boicotar ao filme. Neste time obscurantista, ganha destaque o colunista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, que aconselhou os leitores a que boicotassem a obra. Sua reação virou piada na internet e usada como mérito pela produção do filme na imagem do cartaz e teve o efeito inverso: houveram sessões lotadas em todo o país, tendo mais de 55 mil espectadores assistido ao filme em seus primeiros dias, uma estréia fantástica para um filme nacional.



O filme tem se convertido em um estandarte de resistência cultural ao golpe no Brasil. Gritos de "Fora Temer" tem pipocado em seções pelo Brasil afora e as reações nas redes seguem fortes.Não vou aqui fazer uma opinião crítica detalhada sobre o filme, seguramente ele possui momentos de altos e baixos, cabe, no entanto, apontar que este contexto político tem tirado muitas vezes o foco principal no próprio filme. Este risco, ainda que real, acredito que não irá prejudicar a trajetória do filme.

Aquarius que diz muito sobre o Brasil, mesmo quando não diz explicitamente, como os tantos não-ditos que imperam em nosso país autoritário e desigual. Mais do que isso, em tempos de golpe, ir assistir ao filme é quase um ato de resistência, de clamor por um país que "poderia ter sido" mas "não será", por um ato de força das oligarquias que sempre mandaram.

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